Modelo originalmente brasileiro foi criado nos anos 80 e se popularizou por sua conveniência, rapidez e inclusão
Por Guilherme Paixão
As redes de fast food ganharam espaço no Brasil e no mundo por sua praticidade oferecida aos clientes. A rápida preparação e entrega dos pratos fez com que, principalmente em grandes metrópoles, o modelo de restaurante de popularizasse em nosso país desde 1951, quando se tem o primeiro registro do Bob’s no Rio de Janeiro.
No entanto, nem sempre a praticidade se traduz em uma alimentação saudável e completa. Nesse sentido, os restaurantes a quilo surgem como uma alternativa interessante para quem busca praticidade, variedade e qualidade em uma só refeição.
Com a demanda de comida rápida por parte da população, e principalmente dos trabalhadores, surgiu em Belo Horizonte, no ano de 1984, o primeiro restaurante a quilo do mundo, chamado Isto e aQuilo. Trata-se de um modelo de negócio em que as comidas já estão preparadas, o cliente se serve e, em pouco tempo, já está sentado à mesa se alimentando. Com o tempo, estes estabelecimentos se espalharam pelo país.
Para o consumidor, essas empresas funcionam como uma espécie de fast food brasileiro, que permite que eles escolham os ingredientes que vão compor o seu prato, mas sem ter que esperar a preparação da comida por parte do restaurante. Pensando na realidade do trabalhador, que tem um intervalo curto para o almoço, estes estabelecimentos surgem como uma ótima alternativa em meio ao dia a dia.
Quem confirma esta característica dos restaurantes a quilo é a vencedora do concurso O Quilo é Nosso 2022, Fernanda Beggiato, do restaurante Beggiato, em Belo Horizonte.
“Percebo que nos dias de semana temos esse público que quer um almoço mais rápido realmente. Aos fins de semana, vejo um público que busca um self-service com grande variedade”, analisa Fernanda.
Além disso, os empreendedores têm cada vez mais se preocupado com estas questões de inclusão dentro de seus estabelecimentos. Com a receita Nhoque de abóbora ao molho de cogumelo e sálvia, a cozinheira do Beggiato Restaurante criou um prato que é inclusivo e venceu o maior concurso de restaurantes a quilo do país.
“Ao fazer o meu cardápio fico bem atenta em sempre ter opções sem leite, sem glúten e vegetarianas. Temos carnes com molhos, mas quando um molho tem leite, eu ofereço algo que não tem. E foi pensando muito nessas restrições que pensei nos pratos que criei para participar das edições do O Quilo é Nosso”, revela Fernanda Beggiato.
O exemplo da chef demonstra como a criatividade e a atenção às necessidades alimentares dos clientes podem ser diferenciais para o sucesso dos restaurantes a quilo. Oferecer opções saborosas e saudáveis para diferentes públicos auxilia na fidelização de clientes e no destaque no mercado de alimentação.
Popularização dos restaurantes a quilo
A praticidade para encontrar uma comida de qualidade pode ter sido a chave do sucesso e da expansão deste modelo de negócio. Os restaurantes a quilo são um meio até mesmo de manter restrições alimentares com mais facilidade, por exemplo pessoas que estão em meio a dietas.
Como um estabelecimento que alimenta especialmente trabalhadores durante o intervalo do trabalho, este tipo de restaurante é fundamental no contexto econômico brasileiro. Grandes metrópoles apresentam rotinas muito aceleradas, em que muitas vezes os trabalhadores têm dificuldade para prepararem a comida do dia seguinte de expediente.
“A popularização dos restaurantes a quilo no Brasil se deve à sua natureza democrática, oferecendo opções a preços acessíveis para diferentes orçamentos e preferências alimentares. Além disso, a conveniência e rapidez permitem que os clientes encontrem uma refeição pronta, o que contribuiu para sua aceitação e sucesso”, analisa Fernanda Chagas, diretora de projetos e qualidade da Gass Company.
Fernanda completa dizendo que o modelo oferece uma opção prática para refeições durante o expediente, com um “ar” de comida de casa. “Os restaurantes a quilo proporcionam uma variedade de pratos que se encaixam nos gostos e necessidades dos trabalhadores, permitindo-lhes desfrutar de uma refeição nutritiva e saborosa sem precisar gastar muito tempo ou dinheiro”, completa.
Já Antônio Alberto Aguiar Tombé, Diretor-Executivo de Estabelecimentos da Pluxee Brasil, aponta outra característica deste modelo de negócio. Para ele, estes restaurantes têm relação direta na saúde, bem-estar, qualidade de vida e até mesmo na performance do trabalhador.
“Os restaurantes por quilo possibilitam a montagem de pratos com maior variedade, incluindo verduras, legumes, proteínas e carboidratos. Além disso, os estabelecimentos representam a opção mais vantajosa em termos de custo-benefício. Isso viabiliza uma alimentação nutritiva, saborosa e democrática para os trabalhadores”, diz Tombé.
Em relação ao caráter democrático dos restaurantes, uma análise da Pluxee de 2023 traz um dado interessante. O benefício vale-alimentação ou vale refeição durou em média apenas 11 dias. Isso indica, que dos 22 dias de expediente por mês, o trabalhador precisou arcar com metade das refeições realizadas fora do lar no ano passado.
Esse dado da Pluxee reforça a importância dos restaurantes a quilo como uma opção de alimentação acessível para os trabalhadores. Com o vale-alimentação limitado, esses estabelecimentos se tornam uma alternativa viável para suprir as necessidades alimentares fora de casa ao longo do mês, sem pesar no orçamento.
“Devido à necessidade de pagar metade das refeições por conta própria, muitos trabalhadores acabam fazendo escolhas mais econômicas, o que explica a escolha por restaurantes por quilo. Essa opção é atraente por ser mais acessível e democrática e permitir ao trabalhador montar seu prato de maneira equilibrada, com opções saudáveis e para todos os bolsos”, analisa o diretor da Pluxee.
O quilo é nosso
O concurso O Quilo é Nosso foi criado pela Abrasel, em parceria com o Mundo Mesa, com o intuito de valorizar um modelo de negócio 100% brasileiro. Com o passar dos anos, O Quilo é Nosso tem ganhado cada vez mais relevância e feito parte do calendário dos restaurantes a quilo do país. Muito disso pela oportunidade que o concurso refidelizar os já existentes.
A primeira edição do evento foi realizada em 2017 e teve como vencedor o restaurante Mercato Brazil, da cidade de Manaus/AM, com o prato Pirarucu Caboquinho. “Nós tivemos uma grande visibilidade na cidade devido ao título. Isso refletiu o que refletiu no aumento de clientes e no reforço da marca como referência entre as melhores opções de restaurantes self-service da cidade”, afirma Rodrigo Zamperlini, dono do Mercato Brazil.
Localizado em um shopping na capital amazonense, o Mercato Brazil é uma possibilidade para atender diferentes públicos no espaço, de acordo com Rodrigo. “De segunda à sexta, recebemos muitas pessoas que estão nos seus intervalos de almoço. São clientes habituais e alguns frequentam durante a semana”, diz.
“Já nos fins de semana, recebemos outros tipos de clientes. Como a maioria está de passagem pelo shopping, percebemos que são atraídos pela variedade e qualidade da comida que oferecemos em nosso estabelecimento”, completa.