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George Pinheiro, presidente da CACB, assume o comando da Unecs para avançar em pautas prioritárias: Reforma da Previdência, concentração e verticalização bancária

Por Danilo Viegas

Representatividade é palavra séria para George Pinheiro, desde que seja a de livre-adesão. “Não tem justificativa alguém ser obrigado a pagar para participar de uma associação de pessoas que se eternizam na presidência, muitas vezes não oferecendo nenhum valor a sociedade”, defende. Empresário do setor hoteleiro e presidente da Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB), o acreano assume em 2019 o comando da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), com a missão de estreitar o diálogo com o Governo Federal, Câmara e Senado em pautas prioritárias ao empreender no Brasil: a Reforma da Previdência e a concentração e verticalização bancária.

Para conduzir essas bandeiras, George se apoia em sua experiência como empreendedor e membro fundador e atuante de diversas entidades empresariais. Seu primeiro empreendimento foi em sociedade com o irmão Getúlio, quando transformou a casa da família em um pequeno hotel, que hoje conta com cerca de 170 apartamentos. Os negócios se desdobraram em postos de gasolina, locadora de automóveis e serviços de buffet, entre outras atividades. Em paralelo, uma ativa participação social e empresarial em defesa do empreendedorismo marca sua trajetória profissional desde os anos 70.

Em entrevista à Bares & Restaurantes, George fala sobre desenvolvimento de ambiente de negócios, explica o apoio da Unecs às reformas propostas por Bolsonaro, e sua visão sobre empreendedorismo. Confira.

Bares & Restaurantes - Como surgiu seu interesse por empreender, houve algum tipo de influência familiar?

Sim, muita. Meu avô foi para o Acre em 1903 ganhar a vida e meu pai tinha seringais, grandes propriedades de exploração de seringa, onde se tira o látex da borracha; isso nas décadas de 1950 e 1960. Toda a família trabalhava no comércio, tínhamos também lojas de roupa com confecções própria. Na década de 1970, após a morte do meu pai, minha mãe se muda para Goiânia e vendo que havia uma expectativa de crescimento e ocupações de hotéis em Rio Branco, aluguei a nossa casa e resolvi montar um pequeno hotel. Foi aí que surgiu meu primeiro negócio próprio. Fui diretamente influenciado pela veia empresarial do meu avô e meu pai, com quem trabalhava desde os 10 anos, o acompanhado em viagens do Acre para São Paulo. Nossa família nunca fui de trabalhar em atividade pública, ao contrário; sempre trabalhamos em iniciativas privadas.

Uma coisa é o tino empresarial, outra coisa é alinhar isso ao espírito do associativismo.

Para mim, felizmente sempre foi intrínseco. Trabalho desde muito jovem. Precisei inclusive de uma escritura de emancipação para formar a minha primeira empresa, porque não tinha nem idade suficiente para poder tocá-la. Cresci dentro da Associação Comercial do Acre, onde meu pai participava das atividades, até por isso meus amigos sempre foram pessoas de muito mais idade. Daí foi nascendo esse espírito de defesa, de estar junto dos outros empresários discutindo a livre iniciativa, o pagamento de impostos, o diálogo com o Estado. Isso foi uma crescente, e o Acre era - e continua sendo - um terreno fértil para o desenvolvimento de negócios. Fui ajudando o estado da minha maneira. Nesse sentido, o trabalho de representar estadualmente uma associação independe do tamanho do estado. Um presidente da Federação da Associação Comercial de São Paulo tem o mesmo trabalho de uma pessoa com o mesmo cargo no Acre. A tua liderança é você quem faz, então sempre tive muita participação. Mas vale frisar: nunca na atividade sindical. Não tem justificativa alguém ser obrigado a pagar para participar de uma associação de pessoas que se eternizam na presidência, muitas vezes não oferecendo nenhum valor a sociedade.

É essa a sua visão dos sindicatos?

Essa coisa da obrigatoriedade já caiu por terra. Para você ter uma ideia; eu fui presidente da minha associação comercial em 1982 e tem organização sindical que desde essa época ainda conta com o mesmo presidente. Nós já tivemos pelo menos 15 empresários e novas lideranças que foram surgindo. Antes da Reforma Trabalhista, com sindicatos, você tinha recursos que caiam do céu, com o trabalhador sendo obrigado a pagar. Isso resultou num País com 17 mil sindicatos, uma coisa até difícil de acreditar.

O que precisa, então, para que o associativismo da representação empresarial evolua?

Mais participação. Tenho a certeza que o futuro vai ser de quem tiver competência da representatividade. A entidade que mostra serviço, o associado consegue ver. Vai sempre querer pagar livremente para participar. Quando a pessoa paga livremente tem até uma liberdade maior de cobrar resultados. É assim com a CACB, a Abad, e a Abrasel, por exemplo. O principal benefício é ter uma entidade onde o associado tem a confiança que seus dirigentes defendem a empresa privada junto ao poder público, seja em âmbito municipal, estadual ou nacional.

O senhor começa 2019 à frente da Unecs. Quais são as pautas prioritárias para a entidade este ano?

Continua sendo os negócios bancários, principalmente essa pauta dos meios de pagamento que o Paulo Solmucci tem atuado muito bem com a representação da Unecs e a importância do enfrentamento da concentração e da verticalização bancária. Temos conversando bastante com o novo governo. É impossível termos um país do tamanho do Brasil, com uma economia gigante como e nossa, e apenas cinco bancos terem o controle de mais de 80% de todo o crédito, o que resulta em enormes taxas de juros. Naturalmente também queremos que o governo atue com as reformas que foram discutidas durante a campanha presidencial. Temos que rever essas estruturas de pagamento de impostos, estamos apoiando a reforma em relação às mudanças de impostos no Brasil. Estamos discutindo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, sobre a reforma previdenciária. Essas são as principais metas para 2019, além de continuar atuando politicamente no apoio à nossa Frente Parlamentar, onde temos a consciência que essas mudanças só se tornarão efetivas se nós tivermos apoio do Parlamento Brasileiro.

Qual o caminho para a melhoria do ambiente de negócios no País?

União. A Unecs é prova da força da união de grandes entidades nacionais com um único interesse, que é o desenvolvimento do país, da livre iniciativa. Fazemos isso sem pensar que o Paulo Solmucci, que é o presidente da Abrasel, está discutindo apenas os interesses da Abrasel, ou de que o João Sanvozo Neto, presidente da Abras, está discutindo os interesses dos supermercados. Não! A Unecs discute os interesses da livre iniciativa brasileira. Somos responsáveis por 65% das operações de crédito e débito no país e 15% do PIB brasileiro. São números expressivos demais para que não estejamos unidos e isso é uma grande responsabilidade. Nossa atuação, principalmente no assunto de meios de pagamento, tem um respaldo muito grande e o resultado disso é que o governo mexeu, o jogo mudou. Você antes não podia fazer sequer uma diferença de valor na compra entre cartão de crédito e dinheiro, porque a regra não permitia, O cartão estava lá para você pagar em dez vezes, era o único preço como se pagasse à vista. Não tem muita lógica! Vamos entender aqui que pagávamos, antes de nossa discussão jurídica com os cartões de crédito, algo em torno de 450% de juros ao ano nos cartões. Hoje nós estamos falando de algo em torno de 320, 340%. Foi um número grande que baixou? Foi, mas é ainda um valor muito grande, é descomunal o valor que se paga para tudo: emitir o cartão, receber o cartão, para o lojista receber o antecipado que quer. Nós temos que sair desse Brasil velho e entrar num Brasil Novo, moderno, disruptivo. Este é o objetivo da Unecs

Sem a Reforma da Previdência, o Brasil quebra?

O Brasil não quebra, mas também não consegue se viabilizar. Acredito que o governo deve trabalhar para aprová-la o mais rapidamente possível, até porque é evidente, deve-se aproveitar o seu momento inicial com o apoio que é público, de grande parte da população brasileira que votou para isso acontecer. O governo precisa aproveitar esses 100 primeiros dias de "lua de mel" e aprovar medidas necessárias para o país imediatamente. Nós da Unecs vamos garantir essa atuação, maior presença constante no Senado, na Câmara, na Frente Parlamentar. Queremos que o Governo atue com as reformas que foram discutidas durante a campanha. Nós temos que rever essa estrutura. Estamos juntos, discutindo com o Paulo Guedes e o superintendente da receita federal, Marcos Cintra. Nós vamos ter uma atuação muito conjunta em nossos eventos da Unecs, nas nossas oito entidades, com informações online para que possamos passar, não só aos empresários, mas também à população, para que todos entendam a necessidade de se fazer a reforma da previdência. Vamos ter sinceridade; o governo anterior não fez isso porque quem dava sustentação a ele era uma estrutura sindical. Nós tínhamos um governo sindicalista. E não interessa aos sindicatos, aos funcionários públicos, principalmente aos funcionários públicos graduados, que têm os maiores salários do país, não interessa a eles essa modificação, porque querem continuar com suas mordomias, com seus benefícios, enquanto 80% da população brasileira aposentada não tem esses benefícios. Hoje temos um governo que pensa diferente, que vai criar condições para que a população brasileira tenha essas informações mais corretas. Eu não tenho dúvida que isso vai dar um suporte muito maior para que esses projetos possam ser aprovados. É uma questão de transparência.

Foi criada recentemente a Empresa Simples de Crédito (ESC), que tem por objetivo oferecer financiamento mais barato para as micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais (MEI). Qual é o reflexo dessa ação para o ambiente de negócios no Brasil? Já podemos esperar melhoras significativas a curto prazo?

Podemos esperar sim. Esse é uma questão que o presidente do Sebrae, Guilherme Afif, trabalhou com muito afinco, uma bandeira pessoal dele. Acho inclusive que hoje nós temos uma estrutura tecnológica muito maior que isso, que são as chamadas fintechs (maioritariamente startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro). Eu não tenho dúvidas de que com essa liberalização das normas do Banco Central, pequenas empresas se juntem com grandes empresas e possam ter facilidade de créditos mais acessíveis. Hoje não precisamos mais de estrutura física para comprar e nem para vender. Também não precisamos da estrutura de grandes conglomerados bancários para fazer transferência de crédito ou empréstimos, tudo é virtual. Então, isso vai fazer com que o crédito fique muito mais barato, porque vai ficar mais fácil. Tem dinheiro no mundo inteiro sobrando, e com juros de 0,5 a 1% ao ano! Ao contrário do Brasil, que rende de 300 a 400% de juros ao ano. Reafirmo: não tenho dúvidas de que a concorrência, com essa liberalidade, vai fazer com que o crédito simples no Brasil, seja para micro, pequena ou grande empresa, se transforme em uma realidade. E isso ataca diretamente uma questão já posta aqui que é a da concentração bancária.

O Cadastro Positivo já existe, mas não decolou. Na forma atual, a entrada no programa demanda a autorização prévia do cliente. A inércia, a desinformação, a burocracia e o custo de ir até um birô de crédito para solicitar a inclusão fazem o cidadão não agir. O projeto de lei altera a lógica atual. Todos farão parte do cadastro, a não ser que expressem sua vontade de não participar. Qual é o impacto da aprovação para as entidades de livre iniciativa?

A Unecs está com muita força nessa pauta. Temos uma grande atuação de diálogo com entidades de banco de informações, como Boa Vista e Serasa. As entidades de crédito têm 100% de interesse que esse cadastro positivo seja aprovado. Estamos atuando para que isso aconteça porque isso vai imediatamente diminuir os juros. Se você tem a informação positiva e sem dificuldade de um cliente, ele tem que ter um tratamento diferente em relação a quem tem as informações de pagamento negativadas. Isso é um ponto óbvio que vamos trabalhar com a Frente CSE, Câmara e Senado para que possamos aprovador definitivamente a medida.

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