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Em uma história de superação e sucesso, Rodrigo Souza fez o percurso aprender a empreender no setor, até ter seu próprio negócio nos EUA
O começo do filme é conhecido: como muitos jovens, um brasileiro chega aos Estados Unidos em busca de oportunidades. O carioca que não possuía habilidades com o inglês, mas muita determinação, começa a procurar um emprego.
De início, encontra várias portas fechadas. Sem se abater, o jovem decide que quer trabalhar em um restaurante italiano da cidade, no interior do estado de Massachusetts.
Por meio da insistência, sua determinação chamou a atenção do gerente, que criou uma função para Rodrigo no restaurante. Ele passou a fazer os chamados roll-ups, dobrando garfos e facas em guardanapos, uma tarefa entediante que ninguém queria fazer.
Então, o roteiro muda. Seis meses após sua chegada aos Estados Unidos, Rodrigo estava comunicando-se bem em inglês e rapidamente passou de lavador de pratos a garçom, um emprego que naquela época era considerado o "sonho americano”.
Sua jornada de aprendizado da língua e de trabalho árduo não se limitou ao restaurante italiano. Rodrigo passou por diversas funções, de busboy (ajudante geral) a foodrunner (cumim), até finalmente se tornar garçom. Com sua habilidade de comunicação e paixão pelo contato com os clientes, ele logo estava pronto para se aventurar no ramo de restaurantes por conta própria.
Em 2009, após trabalhar em diversos estabelecimentos, surgiu uma oportunidade única para Rodrigo. Um conhecido possuía um ponto; a intenção do proprietário era abrir um pequeno restaurante brasileiro.
Mas, com apenas um mês de funcionamento, o dono do restaurante precisou ir para o Brasil. Rodrigo não hesitou e assumiu o controle do empreendimento junto com um amigo. Mesmo com a conquista, sua determinação foi testada quando seu sócio o abandonou no primeiro dia de operação, deixando-o com a responsabilidade de tocar o negócio sozinho.
Rodrigo não possuía experiência em administração, nem culinária; o novo empreendedor tinha um grande desafio em mãos. Mas, dedicação e trabalho duro falaram mais alto. O brasileiro conseguiu superar todos os obstáculos enfrentados no início dessa trajetória. Rodrigo ainda destaca que sua disposição para estudar e aprender o idioma e a cultura local o ajudou a se adaptar rapidamente.
O restaurante, chamado "Comeketo", tornou-se uma referência para a comunidade brasileira em Massachusetts, e Rodrigo continuou a expandir seus conhecimentos e aprimorar suas habilidades de empreendedor. No entanto, ele logo percebeu que a clientela brasileira não era a maioria de seus clientes, e passou a direcionar seus esforços para atrair um público mais diversificado.
O empreendedor destacou a importância de oferecer um produto de qualidade a preços justos, ressaltando que os brasileiros que moram por lá nem sempre valorizavam adequadamente refeições que podiam preparar em casa. Isso o levou a ajustar sua estratégia de preços e a se concentrar em atrair mais clientes americanos.
Em 2016, Rodrigo decidiu expandir seus negócios e introduziu o conceito de rodízio em seu restaurante. O brasileiro sempre sonhou em abrir uma churrascaria e considerou esse passo como uma realização significativa.
Ainda, durante a pandemia, Rodrigo diversificou seu negócio, criando uma série de marcas de restaurantes brasileiros autênticos, que vão desde churrascarias até casas de sucos e sobremesas típicas, para operar em sistema de delivery.
Rodrigo demonstrou que, com dedicação, perseverança e uma paixão genuína pelo que faz, é possível superar obstáculos aparentemente impossíveis e alcançar o sucesso nos Estados Unidos. Hoje, ele é um empresário bem-sucedido, que licencia as marcas e modelos para outros empreendedores.
Quando questionado sobre os desafios do mercado de trabalho nos Estados Unidos, Rodrigo destaca a diferença de mentalidade entre os dois países. Ele observa que nos Estados Unidos, a facilidade de encontrar um novo emprego pode tornar as pessoas mais descartáveis, com menos comprometimento e lealdade a uma única empresa.
"Não tem aquela coisa de o cara trabalhou cinco anos e tal, tem que acertar, pronto, o cara tem que ir embora depois de dez anos de trabalho, ok, tchau e bem assim, tranquilo", afirma.
O empreendedor acredita que o maior desafio nos negócios, independentemente do setor, é construir uma cultura sólida dentro da organização. A cultura, para Rodrigo, é o alicerce que sustenta todo o resto.
Quando as pessoas compram a visão e a cultura de uma empresa, elas se tornam mais comprometidas e dispostas a se dedicar. Ele enfatiza que desenvolver essa cultura sólida é o ponto mais crítico e desafiador de qualquer negócio.
A rotatividade de funcionários, conhecida como turnover, é outro desafio contínuo que o empresário enfrenta em seu restaurante. Ele menciona a importância de uma cultura sólida e de um fluxo de negócios previsível para combater esse problema.
Nos Estados Unidos, onde muitos trabalhadores dependem de gorjetas para complementar seus salários, a estabilidade financeira pode ser volátil. Rodrigo destaca a necessidade de oferecer um ambiente de trabalho de qualidade, uma equipe qualificada e oportunidades de desenvolvimento para manter a equipe motivada e comprometida. Muito do que Rodrigo aplica no dia a dia da gestão veio de sua experiência no Exército dos EUA, onde ficou por três anos.
“Eu fui como voluntário e trabalhei numa divisão onde a dedicação era parcial, não exclusiva. Assim eu consegui manter o restaurante enquanto estava nas forças armadas. E, claro, aprendi muito sobre vários aspectos, como a importância do planejamento e do cumprimento de metas, e como se ajustar de modo rápido a mudanças repentinas de cenário”, explica.
Em relação ao ambiente empresarial nos Estados Unidos, o empresário destaca que boa parte dos negócios no país são pequenos e médios empreendimentos, independentes como o seu.
Enquanto as redes de franquias dominam a indústria de restaurantes, Rodrigo enfatiza que pequenos restaurantes independentes também têm espaço e oportunidades para prosperar.
O empresário ainda menciona a importância da tecnologia na gestão de seu restaurante. Ele usa sistemas integrados para gerenciar seu caixa, cozinha e controle de estoque. Essa integração, que é comum nos Estados Unidos, mas ainda está em desenvolvimento no Brasil, permite uma administração mais eficiente e simplificada do negócio.
"Eu também invisto em um grupo de software de gestão e consigo enxergar uma boa oportunidade com inovações tecnológicas para o Brasil, isto está no meu radar e espero poder trabalhar com isso no médio prazo”, afirma.
Para Rodrigo, outro ponto fundamental para o sucesso do negócio é o acolhimento. Ou seja, fazer com que os clientes se sintam bem-vindos e valorizados o tempo todo. A busca por essa qualidade no atendimento é um dos pontos fortes do restaurante de Rodrigo e contribui para sua excelente avaliação na internet.
Ele sempre encontra um tempo para andar pelo salão, cumprimentando e conversando brevemente com os clientes, colhendo opiniões sobre a comida, as instalações, os serviços.
Comparando a burocracia nos Estados Unidos e no Brasil, Rodrigo observa que, embora exista algumas complicações nos EUA, ela é significativamente menos complexa do que no Brasil.
Ele menciona a regulamentação de segurança alimentar e as inspeções de cozinha como exemplos de áreas em que os Estados Unidos são menos rígidos em comparação com o Brasil. No entanto, as punições são fortes para quem anda fora da linha.
Em sua análise, ele explica que a regulamentação varia de acordo com o estado e o município e que, felizmente, a cidade onde seu restaurante está localizado (Leominster) é favorável para o seu negócio.
Rodrigo tem uma história de determinação e empreendedorismo que ilustra como a cultura, a tecnologia e a adaptabilidade são fundamentais para o sucesso em um mercado competitivo e diversificado como o norte-americano. E ela mostra que o sonho é acessível a todos que estão dispostos a enfrentar os desafios com perseverança, não importa o lugar do mundo.
