Por José Eduardo Camargo
A incrível história de luta e superação de um empresário e sua equipe durante a pandemia
“Isso daria um livro”. Muita gente já pensou nestes termos em algum momento. Para Pedro Henrique Oliveira, o PH, isso nunca foi uma dúvida. No período de pouco mais de um ano, desde março de 2020, ele viveu dias e noites intensos: lutou com todas as forças, usou os recursos aprendidos em sua formação e em seu trabalho de consultoria na área de gestão.
Também contou com uma equipe unida e dedicada. E mesmo assim quebrou. Mas deu a volta por cima em grande estilo, graças à fé e à perseverança. E, sim, isso deu um livro. Mas voltamos a ele daqui a pouco.
Consultor e professor de pós-graduação em gestão, especializado no setor de alimentação fora do lar, PH sentiu, há alguns anos, que precisava ter um negócio próprio. Afinal, se ensinava gestão a empresários e trabalhadores do setor, precisava viver suas dores e delícias, também.
Com mais três sócios, abriu um gastrobar numa das esquinas mais valorizadas de Belo Horizonte (MG), no badalado bairro de Lourdes, ao lado de um movimentado (e chique) shopping da cidade. Aos poucos, foi comprando as cotas, até se tornar o único proprietário. E conseguiu um acordo com uma cervejaria artesanal, que passou a estampar o nome do bar: Furst.
Formado em marketing, PH é uma usina de ideias. Se são boas ou não, como ele mesmo define, o tempo é quem diz. Com a equipe, tem períodos de brainstorming para reformular o cardápio, redecorar o ambiente, inovar na abordagem ao cliente.
A par disso, alguns princípios são inegociáveis: o bom humor, a leveza, o trabalho duro e a atenção aos detalhes. A equipe, do cozinheiro à garçonete, tem de estar na mesma vibração, em um processo de seleção natural. Isso, ele sabia, é que garantiria ao negócio um lastro para se manter durante uma crise. Mas ele nem desconfiava do tamanho da tempestade. E ela veio.
Segundo a Abrasel, até março de 2020, existiam 1 milhão de negócios do setor, empregando diretamente 6 milhões de brasileiros. Desses, 300 mil fecharam as portas em definitivo e mais de 1,2 milhão de trabalhadores foram demitidos. A sangria ainda continuou em 2021, até que o mercado fosse remodelando.
Este processo causa efeito terríveis ainda, com a maioria das empresas acumulando dívidas e lutando para retomar. Por outro lado, acelerou processos que já vinham em curso, como o aumento do delivery.
Belo Horizonte foi uma das cidades onde bares e restaurantes mais sofreram com o processo de restrições os estabelecimentos passaram dos 100 dias fechados.
PH descreve como isso foi aos poucos minando sua capacidade de se manter funcionando: “no começo de 2021 a loja estava 100% fechada: sem a venda do carro chefe (o chope gelado) o faturamento diário mesmo com delivery não cobria os gastos essenciais para o funcionamento.
A equipe teve o contrato de trabalho suspenso e foi para casa, torcendo e rezando pela normalização da saúde e da economia. E as dívidas, é claro, se acumulavam”.
Aí voltamos ao livro, que PH escreveu durante o processo, até como maneira de registrar os erros e acertos na tentativa desesperada de superar a adversidade. Nele, estão registrados os principais passos, as principais sacadas e também os erros que foram cometidos durante o processo. O tema que toma boa parte da narrativa é o aprendizado.
De como tentar estruturar um delivery e ir se adaptando a cada pedra no caminho. De como ir reaprendendo a cada dia sobre as novas características dos seus clientes, mesmo os velhos conhecidos. De como aprender novas habilidades a cada dia, em um processo acelerado de mudanças.
Mesmo com todo este aprendizado e toda esta luta, o Furst quebrou. Cercado por dívidas, atormentado por não ter como manter mais a equipe, tendo de abrir mão do ponto, vendo o sonho escorrer para a sarjeta, PH teve de aceitar a derrota.
Reuniu a equipe e deixou claro: eles escolheriam em conjunto. Ou cada um seguiria seu caminho, ou eles iriam lutar juntos para reerguer, como fosse, o negócio em outro lugar. O desespero eles já tinham, restava só a esperança.
Para encurtar o caminho, em um par de meses, à força de muita criatividade para arranjar fundos (com clientes fiéis, com amigos e até com futuros clientes), de muita sola de sapato e saliva gastos para conseguir um novo ponto (em um outro barro, o Prado) e de muito trabalho (todos da equipe viraram pedreiros, pintores e especialistas em iluminação) eles abriram o Slod, usando exatamente os mesmos equipamentos e materiais do bar antigo.
Com a reabertura, já com gastos enxutos e equipe azeitada, o negócio vem decolando. Tanto que a equipe abriu uma outra casa em frente, a Carne & Sal, especializada em parrilla. Mas aí já é spoiler demais do livro.
Sobre o livro:
O livro “Gastronomia – do Desespero à Esperança” pode ser encomendado nas redes sociais do bar Slod (no Instagram é @slodexperience) e custa R$ 49. Todo escrito durante a pandemia, o livro foi editado de forma independente pelo próprio empresário. Acompanhan- do a história, o leitor encontra também diversas fotos da equipe, de momentos engraçados e de detalhes dos estabelecimentos.