Em entrevista ao podcast O Café e a Conta, fundador da Coffee ++ revela como os cafés especiais podem elevar a experiência do cliente
Leo Montesanto, após um período de experiência adquirida no ramo de produção e exportação de cafés especiais, decidiu abrir o próprio negócio e em 2015 lançou a marca Coffee ++, focada em uma qualidade premium. Após apenas três anos, com a produção da Fazenda Primavera, em Minas Gerais, recebeu o prêmio de melhor café do mundo.
No mais novo episódio do podcast O Café e a Conta, o empresário revela como os cafés de alta qualidade podem fazer uma diferença de grande impacto na experiência do consumidor. Estabelecimentos do setor que trabalham com a bebida podem aprimorar o serviço apostando em produtos que sejam mais sabororsos e atraentes para o consumidor.
Leia um trecho da entrevista e assista na íntegra:
O Brasil parece estar redescobrindo o mundo dos cafés. Muitas pessoas estão saindo dos cafés coados tradicionais para outras formas de consumo. Você enxerga essa mudança de maneira positiva?
As redes sociais hoje ajudam a alcançar mais pessoas ao mesmo tempo, e tem muita gente falando sobre cafés especiais na internet. Não vou falar que dizem bobagem, porque é muito subjetivo, mas muita gente está falando para estar na trend nova.
Cada um defende o que gosta, mas quando muita gente começa a falar, as pessoas ficam curiosas para experimentar também, e descobrir.
E se você tomar o café especial, o paladar não retrocede. Você não vai voltar atrás, a não ser por alguma questão financeira. Caso contrário você só vai tomar café bom.
E nós, brasileiros, nunca olhamos o café pela seguinte ótica: ele é um produto de cesta básica, e tudo que está lá é alimento. Então, por que aqui se toma o café que é a sobra dos gringos?
O Brasil é tão grande como produtor, que é maior do que o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto colocado juntos.
Ou seja, temos um vínculo cultural muito forte com o café. E nós não conseguimos consumir o melhor desse produto por que não conseguimos extrair a potencialidade dele?
Não, na verdade é uma coisa cultural, mas essa cultura está mudando. Agora, a informação começou a ser tão disseminada que as pessoas estão procurando entender. Com isso, uma hora você vai experimentar e vai entender que é um produto completamente diferente.
Uma coisa que poucos brasileiros sabem é que café é uma fruta e é uma fruta doce. Por que o café que o Brasil é amargo? Porque a gente toma a sobra. Os gringos vêm aqui e escolhem o melhor café; a gente não consegue exportar a sobra e ela se torna o café que o brasileiro bebe.
Como os donos de bares e restaurantes podem aproveitar mais essa busca por consumir produtos com mais qualidade?
Eu vejo os donos de restaurantes investirem muito no serviço e nos produtos que eles servem: na manteiga, no queijo, no arroz, na carne. Mas qual é o último gosto que o cliente sente na boca? É o café. E eles não estão investindo nessa última lembrança. O cliente não sai do restaurante com a boca achocolatada, ele está saindo com a boca amarga.
E quando falamos de café especial, isso com os da Coffee ++, por exemplo, cada café tem um atributo sensorial diferente. E o que é um atributo sensorial? O café é exatamente igual ao vinho. Você tem a uva roxa, que é a espécie, e toma o vinho Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, e são variedades de uva roxa completamente diferentes. Aqui, minha uva roxa é o café arábica.
Cada café arábica diferente tem o seu atributo sensorial. Por dentro, a fruta do café tem um caldinho que a gente chama de mucilagem, depois vêm duas sementes, que a gente torra e bebe. É na mucilagem que está a doçura da fruta.
O meu trabalho como produtor é pegar essa fruta no pico de maturação e conduzir o processo de secagem com perfeição para que esses atributos sensoriais permaneçam na semente.
Os restaurantes poderiam, por exemplo, começar a oferecer para os clientes harmonizações de doce com esses cafés.
Como podemos mudar a cultura para que o consumidor final tome o café certo, quando nem os empresários de bares e restaurantes conhecem um café? Como criar essa cultura?
Essa iniciativa está cem por cento na pessoa jurídica, nos empresários. Eu faço minha parte, e tem milhões de outras marcas fazendo cafeterias. Uma andorinha sozinha não faz verão; quanto mais gente falar, é mais mercado.
Assim vamos criando um mercado novo e uma categoria nova. Há 10 anos, essa categoria não estava na prateleira do supermercado que hoje me liga pedindo o meu café porque o cliente está buscando.
Além da harmonização com as sobremesas, de que outras formas os empresários podem valorizar esse produto?
O café é o produto que mais tem margem no restaurante, mas é o que menos dá faturamento. Onerar sair de uma dose de um real para um real e trinta centavos, isso não vai machucar o seu resultado.
Quantos cafés você tem que vender para vender o equivalente a um prato? Dentro do seu faturamento ele representa pouco, mas a margem é muito alta.
Quando enxerga valor nesse negócio, você completa a experiência do cliente. Ele começa tomando uma água muito boa, come uma entrada maravilhosa, pede um prato com vinho maravilhoso, depois uma sobremesa. Aí vem o café e amarga.
E qual a alternativa quando o paladar não acompanha o poder aquisitivo?
Essa é uma ótima pergunta, e a resposta está na matemática.
O café é o luxo mais barato que qualquer brasileiro pode ter.
Um quilo de café tradicional custa 30 reais, e o meu custa 80. É mais do que o dobro. Mas se um quilo produz cem doses, uma dose do café tradicional seria 30 centavos, e do meu café, 80. Por uma moedinha de 50 centavos, você sai do inferno e vai para o céu.
Confira abaixo a entrevista completa com Leo Montesanto para o podcast O Café e a Conta!