Dos temas mais abordados no evento, o valor dos bares e restaurantes para o âmbito social foi continuamente evidenciado
Desde sua abertura, pautas sociais foram exploradas no 35º Congresso Abrasel. Com grande foco no ESG, sigla em inglês que designa o campo de ações de interesse sociamebiental e de governança, o evento exaltou os méritos do setor em relação à recuperação do período pandêmico, expôs os desafios que vêm sendo enfrentados e propôs novas soluções a empreendedores de bares e restaurantes. A importância social destes estabelecimentos foi um dos temas de maior realce em todos os dias do evento.
Abertura solene do Congresso Abrasel: apoios à campanha de combate à fome, aos empreendedores das favelas, aos catadores e às catadoras de resíduos
A imagem do setor da alimentação fora do lar, há muitos anos vinculada a causas sociais, foi destacada na noite de 15 de agosto, durante a cerimônia de abertura do Congresso Abrasel, com a presença de várias autoridades públicas.
Entre elas, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB/SP), o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB/PB), o presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PSB/RJ), o presidente, no Senado, da Frente Parlamentar de Comércio, Serviços e Empreendedorismo, senador Efraim Filho (União Brasil/PB).
Na ocasião, anunciou-se a adesão da Abrasel ao movimento Pacto Contra a Fome. Estava presente à solenidade a empresária Geyze Diniz, cofundadora e presidente do movimento, que agrega instituições privadas e o poder público. O movimento tem como objetivo engajar as pessoas para que nacionalmente se reduza o desperdício de alimentos e se acabe com a fome no Brasil.
A Abrasel está abrindo três frentes de fomento ao empreendedorismo em favelas, com as respectivas lideranças locais: 1) Fortaleza (Comunidade do Dendê), 2) Maceió (Comunidade do Vergel) e na Zona Sul São Paulo (região do Campo Limpo).
Outra ação da Abrasel, que está em vigor, é a campanha de difusão do reconhecimento social das catadoras e catadores de resíduos sólidos. É um movimento em parceria com a Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT).
O ambiente de socialização dos bares e restaurantes brasileiros dissolve os radicalismos interpessoais
O tom predominante nas falas dos participantes do Congresso Abrasel é o de que, no setor brasileiro da alimentação fora do lar, se acentuam, com brilho intenso as duas faces da mesma moeda.
Isto é: expressando-se o mesmo valor em um lado (socializante) e no outro (tecnificante). Faz parte da intensa e vasta mudança cultural na juventude, que está em curso em expressiva parcela do mundo de hoje, a supressão dos fundamentalismos, tais como o religioso, futebolístico, ideológico, nacionalista, industrial, ambiental, liberalizante, estatizante, analógico e digital.
Na pesquisa realizada pela Abrasel e pelo Sebrae, a maioria dos entrevistados conferiu às ações do entrelaçamento social um valor ainda maior do que as ações em prol do meio ambiente.
O caráter mais democrático da convivência entre as pessoas, no Brasil, até se espelha pelo fato, como apontou Luíza Campos, líder de Comunicação e Economia da Abrasel, de que 37,5% do total de empreendedores do setor da alimentação fora do lar, no país, são mulheres.
Os restaurantes brasileiros predominantemente têm sido, de acordo Sergio Molinari, cofundador e sócio fundador da Food Consulting, espaços da socialização, sem “o oito ou oitenta”.
Um significativo exemplo, como mencionou, é o de que nas pesquisas sobre o comportamento do consumidor não se não se constatam preferências radicalmente polarizadas, até mesmo por parte da geração Z (os nascidos entre 1997 e 2009).
“O cara pode ir à academia e, de manhã, tomar creatina (um suplemento voltado à produção de energia para as células musculares). Mas à noite, quando vem a vontade de comer um hamburgão, assim o faz; e é com bacon”. Arremata Molinari: “Temos de ter a clareza de se concluir o seguinte: esse público, essa grande massa de consumidores, não é radical”.
O dirigente da Food Consulting ressalva que, embora a tendência predominante dos jovens não seja a de fundamentalistas da nutrição saudável, isso não quer dizer que não haja, entre eles, nichos dos vários segmentos, como os do vegetarianismo e veganismo. “O que se constata é que a grande massa desses jovens transita entre o saudável e o prazer, entre a indulgência e a permissividade”.
Resumindo, em termos gerais eles procuram o tom da saudabilidade, com saladas, frutas e verduras, estabelecendo um equilíbrio entre os vários grupos alimentares, reduzindo o consumo de gordura e fritura, mas sem abdicar por inteiro do que popularmente se considera como “comida de verdade”.
O que a moçada de fato não abre mão é a de quebrar a rotina, de se socializar e celebrar vida presencial nos bares, restaurantes, nas cafeterias e lanchonetes, em momentos da noite e, sobretudo, nos fins de semana.
A socialização é o terreno sobre qual se desenvolvem as sensibilidades dos jovens para as questões ambientais, socioeconômicas, do empreendedorismo desburocratizado e, consequentemente, de melhoria da qualidade de vida, conforme se expressa no mantra da Abrasel, que é o de um país mais simples de se empreender e, consequentemente, melhor de se viver.
Daí por que, o Líder de Conteúdo da Abrasel, José Eduardo Camargo, lembrou que, na pesquisa realizada junto com o Sebrae e focada no comportamento do consumidor brasileiro, revelou-se que a maioria dos entrevistados conferiu às ações comunitárias um valor ainda maior do que as ações em prol do meio ambiente.
Moderação dos jovens ingleses com os horários noturnos e as bebidas. No brasil, o apreço ao atendimento gentil, à higiene e à arte do encontro
A diretora da Ecolab,Marilia Meneghisse narrou, que, em consequência da cultura social igualmente desenvolvida em países como os Estados Unidos e a Inglaterra, levou os jovens a se afastarem do consumo de bebidas alcoólicas.
Na Inglaterra, apenas realizam-se as festas denominadas “before midnight”, que se estendem até antes da meia-noite. E, mesmo nas danceterias - com programação musical conduzida por DJs (disck jockeys) -, oferece-se alimentação saudável. A juventude volta para casa no máximo às onze da noite, em função dos compromissos no dia seguinte.
Embora no Brasil a moçada não tenha chegado ao ponto de limitar as festas a até antes da meia-noite, e aqui nem mesmo comumente se faça a opção por menos bebida, substituindo-a pelo coquetel sem álcool, houve outros significativos avanços na valorização da qualidade de vida.
Nas pesquisas Sebrae/Abrasel, de acordo com o relato de José Eduardo Camargo, Líder de Conteúdo da Abrasel, constatou-se, entre os consumidores do setor da alimentação fora do lar, um elevado grau de consideração pelos atributos positivos dos bares e restaurantes.
Quase a totalidade dos consumidores entrevistados (95%) afirmou que suas refeições sempre ocorrem no recinto dos restaurantes em que se paga pelo almoço, lanche ou jantar. O motivo de assim proceder, ainda segundo a pesquisa, é a socialização, a interação humana, a celebração, o encontro com amigos e conhecidos.
Outros irremovíveis pré-requisitos são a limpeza, a higiene, a sanitização. E, adicionalmente, a educação no trato pessoal, a cordialidade, a afabilidade e a visível capacitação dos garçons e atendentes.
Todas essas peculiaridades, somadas à estética e ao sabor dos pratos servidos, fazem com que, como acentuou Sérgio Molinari, baseado em pesquisa da Food Consulting, os consumidores cheguem a admitir que, no fechamento da conta, se justifique um preço maior. O sentimento, como aduziu ele, é o de “faz sentido o que agora pago; satisfeito, vou embora”.
Estacionamento e menu ‘qr code’: dois tópicos que saem da pauta
Além de os palestrantes colocarem luzes sobre os aspectos de grande valor para os consumidores, a pesquisa Sebrae/Abrasel também acaba apontando pontos que se tornaram irrelevantes para os clientes de bares e restaurantes.
Um deles é o estacionamento, que perdeu importância em relação há dez anos, quando se realizou na Abrasel uma pesquisa dentro do projeto então denominado de Caminhos do Sabor.
A Lei Seca, a opção preferencial de frequentar um bar ou restaurante próximo de casa e, ainda, a disponibilidade dos tradicionais táxis e dos aplicativos de táxi, acabaram com o incômodo dos gestores dos estabelecimentos de ter no seu quadro de pessoal os manobristas. Esta é uma questão já resolvida.
O que ainda permanece como uma certa pendência é a decisão de se aderir ou não ao QR Code, que, se adotado, substitui os cardápios impressos. Este tema não se enquadra no rol das pautas mais sensíveis, como a da higiene, cortesia no atendimento e qualidade dos serviços à mesa.
O que se evidencia é a majoritária preferência pelos menus físicos, em vez dos digitais. Os cardápios impressos incrustaram-se na memória afetiva de considerável parcela dos clientes. O seu manuseio faze parte da charmosa atmosfera dos restaurantes.
Folheá-los propicia uma sensação ocular e tátil, sobretudo quando resultaram de um tratamento gráfico mais elaborado.
Os menus com código QR são mais impessoais, dispensando-se a interação dos clientes com os garçons. O único ponto a favor do código QR, no caso em tela, é que os gestores dos estabelecimentos podem facilmente atualizá-los, permitindo-se, dessa forma, alterá-los quantas vezes for necessário, sem que tenham de arcar com os custos de nova impressão.