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Inspiradas por um movimento mundial de combate à poluição, propostas para banir item tramitam em várias regiões do País

Por Paula Antonacci

Você sabia que o tempo de decomposição de produtos plásticos pode chegar a 500 anos? E que apenas 9% da produção mundial segue para reciclagem? Os dados são da ONU que, em fevereiro de 2017, lançou a campanha Clean Seas (Mares Limpos) para alertar os governos, a população mundial e o setor privado sobre as consequências do descarte incorreto desse material, sobretudo nos mares. Nos últimos anos, as ações de combate ao uso exacerbado do plástico se intensificaram mundialmente, gerando reflexos para o setor de alimentação fora do lar, inclusive no Brasil. Segundo o Instituto Ocean Conservancy, os canudos – utilizados por bares, restaurantes, lanchonetes e padarias – estão em quinto lugar na lista dos resíduos mais encontrados nos oceanos, e apesar, de ser menos comum que outros itens, se tornaram os “grandes vilões” da sustentabilidade no discurso de combate ao plástico. Em algumas cidades brasileiras, eles já foram (ou estão sendo) abolidos por meio de projetos de lei, o que tem levado empresários do setor a buscar alternativas para oferecer aos clientes.

O Rio de Janeiro foi a primeira capital brasileira a proibir o uso dos canudos plásticos. A lei, sancionada pelo prefeito Marcelo Crivella em julho de 2018, prevê apenas o uso de canudos de papel biodegradável ou reciclável. Para o presidente da Abrasel no estado, Roberto Maciel, apesar de os canudos não serem o principal problema dentre os resíduos plásticos, a preocupação é válida. “Tem outras coisas, como as sacolas, que causam mais danos que o canudo e deveriam estar sendo resolvidas primeiro. Mas se temos que dar o exemplo, vamos dar. No geral, os empresários entendem e são sensíveis à questão”, conta. A executiva da Abrasel no estado, Vera Peixoto, reforça que a Associação está tentando uma audiência na Prefeitura para pleitear um aditamento na lei, que abra precedente para oferta de outros tipos de canudos biodegradáveis.

Para o empresário Bruno Tolpiakow, sócio-diretor dos restaurantes cariocas Satyricon e Capricciosa, alguns segmentos – como fast food – foram mais afetados. Em seus negócios, a decisão encontrada foi deixar de ofertar os canudos. “No início foi complicado porque não tinha muita opção de fornecedores dos canudos de papel, e os que havia exigiam uma quantidade mínima de compra muito alta em relação a nossa necessidade. Por isso, optei por não oferecer. Agora estamos voltando a buscar novas opções, pois percebemos um movimento de adaptação dos fornecedores. Por enquanto, os clientes têm entendido a situação”, conta.

A proposta ganhou defensores nas cinco regiões do Brasil. O Rio Grande do Norte foi o pioneiro a abolir o uso do item em âmbito estadual. Em outros estados, a decisão já vale em algumas cidades como Londrina (PR), Vila Velha (ES), Sorocaba (SP) e Santos (SP). Em quase todas as capitais já tramitam projetos de lei com objetivo de vetar o uso de canudos plásticos; já na Câmara dos Deputados, somente em 2018 seis projetos dessa natureza foram apresentados.

Em Londrina, o PL 97/2018, de autoria do Pastor Gerson Araújo (PSDB) foi aprovado em outubro. Para o vereador, apesar do preço unitário das atuais opções de substituição ao canudo plástico ser mais alto, é esperado que os custos relativos fiquem cada vez menores com o aumento da produção. Segundo o diretor-executivo da Abrasel no Norte do Paraná, Vinicius Donadio, após a medida, a Associação procurou empresas fabricantes de canudos de trigo e papel biodegradável para avaliar uma possível compra coletiva. “Como a fabricante é de outro estado, fica inviável pagar um frete para cada estabelecimento. Estamos negociando para fazer uma aquisição grande, com a intermediação da Abrasel”, explica.

Para o coordenador-executivo do Instituto Ecozinha, Ian McKee, o canudo é o pontapé de uma campanha global contra o plástico de uso único (descartável), que já começou a mudar alguns comportamentos. Em muitos estabelecimentos onde os drinks iam para a mesa do cliente já com o canudo, até quando o item não era solicitado, a prática anda sendo revista, mesmo antes de uma possível proibição oficial, por exemplo.

Há pouco mais de três meses, Gabriel Stroligo, sócio proprietário do 42 Bar e Board Game, em Palmas, aboliu os canudos plásticos. “No início do processo de mudança, tentamos só tirar o plástico, mas depois percebemos que precisávamos de uma solução alternativa, já que nosso negócio é muito focado em drinks. Escolhemos os canudos de metal”, explica.

O empresário conta que fez a troca inspirado em um estabelecimento do Rio e vê a medida com bons olhos. “É o mínimo que podemos fazer para incentivar o consumo de forma sustentável e evitar o desgaste do meio ambiente. Acho que os clientes entendem isso e também colocamos um cartaz explicando a mudança”, defende Gabriel. Sobre os custos, ele afirma que as peças de metal são mais caras que as convencionais, mas a longo prazo valem a pena, pois além de não serem descartáveis, têm valor agregado por deixar as bebidas mais bonitas.

Um dos segmentos fortemente afetados pelas campanhas de combate ao plástico de uso único é o de fast food. Grandes redes, como o Mc Donald’s, já estão com as atenções voltadas para o atual cenário. O diretor de Relacionamento Institucional no Brasil, Fernando de Paula, diz que o Mc Donald’s é a favor do movimento, mas alerta para o cuidado na implementação das novas regras. “Ainda não temos um mercado consolidado para fornecer materiais alternativos ao plástico e existe um grupo que precisa desse material, como é o caso de algumas pessoas com deficiência física”, menciona o executivo, lembrando que em alguns projetos de lei a proposta é simplesmente proibir os canudos, sem possibilitar uma substituição adequada.

Segundo o diretor, ainda não foi feito um trabalho de substituição dos canudos plásticos em todas as lojas brasileiras do Mc Donald’s, mas a rede já trabalha com um processo de desestimulação do uso e só oferece o item quando solicitado. “Fizemos um planejamento para, até 2025, termos uma mudança total em relação aos plásticos de uso único nos nossos restaurantes”, afirma.

Movimento internacional

Em outros países, leis para reduzir o uso do plástico também já foram publicadas, como é o caso da Índia, França e Costa Rica. Mais recentemente, parlamentares da União Europeia também aprovaram propostas para a proibição dos plásticos de uso único, mas a questão ainda tem que ser debatida pelos Estados-membros. Vale ressaltar que o planejamento desses países considera um prazo de adaptação e as mudanças devem ser feitas até 2020/2021, fato que vem sendo apontado por empresários e fabricantes como um dos problemas dos projetos de lei do Brasil. No Rio de Janeiro, foram dados apenas dois meses para a mudança.

Mateus Crocetta, diretor da Cropac, fabricante de canudos plásticos, diz que o movimento no Brasil é extremamente desleal por deixar os fabricantes na ilegalidade em poucos meses. Acompanhando a tendência, a empresa afirma que já começou a reduzir a produção do produto convencional e desenvolver um substituto biodegradável, que tem um custo cerca de 30% maior que o de plástico.

Para o diretor de relações institucionais do Mc Donald’s, no Brasil, a alta demanda com baixa oferta pode inflacionar o preço dos produtos alternativos e estimular a importação, sendo necessário um prazo de dois a três anos para a adaptação. “Continuamos acreditando que os nossos agentes do legislativo tenham a mão na consciência para que não estimulem uma concorrência desleal, uma inflação de preços e um processo de exportação quando nós estamos dentro de um cenário de desemprego”, alerta Fernando.

Opções no mercado

Além do canudo de metal e de papel, outras opções estão surgindo no mercado. Até os próprios alimentos estão sendo matéria-prima para substituição dos plásticos, como canudos à base de macarrão e de mandioca. Além dessas opções, também já estão sendo comercializados canudos de bambu, inox, vidro e outros materiais comestíveis, sendo que as opções reutilizáveis geralmente são adquiridas pelo próprio consumidor para uso pessoal, devido ao custo mais elevado.

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