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A alta rotatividade de funcionários preocupa empreendedores brasileiros, especialmente no setor de bares e restaurantes, onde a liderança eficaz é essencial para a retenção de empregados

Por Duda Gomes

Cerca de 93% dos empreendedores contratam pessoas sem experiência. Esse comportamento do setor pode influenciar no aumento do nível de contratação de funcionários. Foto: Shutterstock

No empreendedorismo brasileiro, uma das dificuldades enfrentadas pelos empresários é a contratação e retenção de mão de obra qualificada. Os donos de bares e restaurantes não estão isentos desse desafio.

Por outro lado, o setor por natureza se destaca como a porta de entrada para a primeira experiência de muitos brasileiros; de acordo com a Abrasel, cerca de 93% dos empreendedores contratam pessoas sem experiência.

Esse comportamento do setor pode influenciar no aumento do nível de contratação de funcionários. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD, divulgada em abril de 2024, nos últimos 12 meses o setor apresentou um aumento de 1,7% no número de pessoas empregadas.

Encontrar profissionais qualificados e dispostos a permanecer no setor de bares e restaurantes é difícil, mesmo com o crescimento da oferta de mão de obra. A alta rotatividade exige constante treinamento de novos funcionários, afetando a qualidade do serviço e aumentando os custos operacionais. A falta de continuidade na equipe impede a construção de uma cultura organizacional sólida, crucial para o sucesso a longo prazo. Empreendedores buscam soluções para esses desafios enquanto equilibram a retenção de talentos com limitações financeiras e operacionais.

Quem vivencia isso no dia a dia é Fabiano Matta Machado, proprietário do tradicional restaurante Isto e aQuilo, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Para o empreendedor, este é o pior momento quando o assunto é contratação de novos funcionários para o setor de bares e restaurantes.

A dificuldade não para por aí. Machado reforça que a rotatividade também é um desafio no empreendimento; para o empreendedor a baixa retenção dos funcionários atingiu níveis fora dos padrões históricos do negócio.

De acordo com o Fabiano, a ausência de manutenção dos funcionários no empreendimento afeta os processos produtivos e operacionais. O proprietário afirma que o procedimento de treinamento e contratação se repete constantemente.

As raiz da produtividade

Os empreendedores frequentemente se veem confrontados com a pergunta sobre o motivo por trás da evasão dos funcionários e do aumento da rotatividade no setor de bares e restaurantes. Essa preocupação não é apenas uma questão de gestão de recursos humanos, mas também uma reflexão sobre a saúde e a estabilidade do ambiente de trabalho. Para a sócia diretora da Resch Recursos Humanos, Jacqueline Resch, os colaboradores podem estar saindo por vários motivos.

“Talvez tenham encontrado uma oportunidade que consideram mais vantajosa, seja em termos de remuneração, benefícios ou ambiente de trabalho. Outra possibilidade é que busquem um ambiente com uma carga de trabalho ou pressão menores. Além disso, é possível que saiam devido a um clima organizacional negativo, onde não se sentem confortáveis ou valorizados”, conta Resch.

A evasão devido à pressão e clima organizacional está ligada ao estresse no trabalho, impactando o bem-estar e a saúde mental dos colaboradores. Segundo Márcia Matta, especialista em recursos humanos, é um erro pensar que a remuneração é o principal fator para reter funcionários, pois o salário não é o aspecto mais importante na fidelização dos colaboradores.

A mudança no olhar do empreendedor

A valorização da qualidade de vida no ramo do empreendedorismo tem raízes no período pandêmico. É o que afirma a especialista em recursos humanos, Márcia Matta. A consultora explica que a pandemia trouxe novas referências para a população.

“Muitas pessoas argumentam que a pandemia é algo do passado, mas ela nos trouxe novas perspectivas. Nessas novas perspectivas, percebemos uma demanda crescente por qualidade de vida, que agora está intrinsecamente ligada a tudo o que fazemos, incluindo o equilíbrio entre trabalho, bem-estar e propósito de vida”, conta Márcia.

A especialista Márcia Matta afirma que a comunicação e interação nas empresas estão quebradas, desafiando-as a reexaminar a atração de talentos. A atratividade deve ser evidente desde o primeiro contato no processo seletivo, expressando os valores da empresa. Esses valores, refletidos pelos empresários na gestão, são essenciais para a retenção de funcionários. Márcia destaca que isso é importante tanto para grandes quanto para pequenos negócios.

Nos processos seletivos, é importante que os empreendedores apresentem, logo de início, quais são os comportamentos desejáveis. Essa ação pode facilitar a compreensão por parte do empreendedor sobre o perfil do candidato e a probabilidade de aderência do colaborador no ambiente de trabalho.

Dessa maneira, a especialista afirma que muitos conflitos surgem da falta de identificação entre as pessoas, o que pode levar à evasão dos profissionais.

“Essa falta de afinidade é um aspecto crucial, pois, afinal, as organizações são feitas por pessoas e é essencial que elas se relacionem bem”, afirma Márcia Matta.

Essa afinidade pode ser avaliada através das perguntas feitas no processo seletivo. Nesse caso, o importante é definir quais valores são indispensáveis e quais são desejáveis para a organização. Durante as entrevistas, é essencial fazer perguntas objetivas, sem direcionar para uma resposta específica.

“O candidato precisa demonstrar genuíno interesse em ser contratado e suas respostas devem ser elaboradas sem influência externa”, reforça Márcia. Aqui, de acordo com a especialista, além de perguntar sobre as experiências prévias do profissional, é fundamental entender o que o colaborador gosta de fazer. Isso revela um pouco da personalidade da pessoa e como ela poderia se encaixar no quadro de trabalho do empreendimento.

Para Márcia, quem deve fazer essa observação de forma mais atenta, além do empreendedor, é a pessoa que representa o papel de líder da gestão do bar ou restaurante. Quem está à frente deste cargo é também o responsável por realizar um dos processos mais importantes para a retenção de talentos: a integração.

Para que o colaborador se sinta, de fato, parte da equipe é essencial que ele conheça seus colegas e compreenda a dinâmica do local. Isso inclui entender o perfil da clientela e familiarizar-se com o cardápio, por exemplo. Ao estabelecer essa conexão com o ambiente de trabalho e compreender o contexto operacional, o colaborador pode contribuir de forma mais eficaz para os objetivos da empresa.

De acordo com Márcia, é fundamental também olhar para quem já está dentro do empreendimento, ao pensar em processos de qualificação e investimento na equipe.

Para a especialista, é imprescindível entender quem são as pessoas que fazem parte desse negócio. Um exercício que pode funcionar é perguntar às pessoas que ocupam posições estratégicas dentro da organização, principalmente, aquelas que ocupam um cargo ou possuem um perfil analítico o que elas sentem faltam no seu dia a dia. A resposta pode ser a chave da mudança no clima organizacional.

Dessa forma, é essencial adotar uma postura firme, mas que também escute a equipe pode beneficiar o nível de gestão dos estabelecimentos; a longo prazo os funcionários irão compreender o seu propósito dentro do espaço em que trabalham.

Trabalho com propósito

Trabalhar com propósito impacta diretamente a forma como os colaboradores lidam com o mercado, transformando o trabalho de uma atividade mecânica em uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional, marcada por desafios e aprendizados constantes.

Esse modelo de trabalho melhora a retenção de funcionários, pois quando se sentem valorizados e engajados com o propósito da empresa, são mais propensos a permanecer em seus cargos, resultando em uma equipe mais estável e coesa. O propósito não se restringe ao significado atribuído ao trabalho, mas também ao impacto nas relações pessoais, como no ambiente familiar, conforme destaca Marcia Matta, indo além do ganho salarial.

“Não se trata apenas do que recebo como retorno pelo meu trabalho, mas também das repercussões na minha família. As políticas do restaurante também estão relacionadas a este aspecto”, afirma Matta.

Assim, a segurança psicológica no ambiente de trabalho é essencial, permitindo que os colaboradores expressem suas opiniões e compartilhem ideias sem medo de rejeição ou constrangimento. Quando gestores aplicam esse conceito, a produtividade dos colaboradores aumenta e a equipe se transforma.

Isso é especialmente relevante no setor de bares e restaurantes, onde a valorização do trabalho é crucial. Gestores desempenham um papel fundamental, embora essa tarefa exija atenção especial.

*Adaptado da publicação original na edição 157 da Bares&Restaurantes

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