Em sua quarta edição, evento contou com a participação de chefs renomados que se apresentaram com ingredientes oriundos do Amazonas
Cercada pela Floresta Amazônica e banhada pelos rios Negro e Solimões, Manaus traz uma infinidade de ingredientes e sabores. Dos mais óbvios e tradicionais como o peixe pirarucu até os insumos mais surpreendentes resultam em uma culinária um tanto quanto única, com pratos muito característicos do Amazonas.
Sensações térmicas que superaram os 40º durante a onda de calor que atingiu o Brasil naquela semana, forte fumaça em razão das queimadas na região e rios em baixo nível pelo período de seca. Foi neste cenário que aconteceu a FIGA (Feira Internacional de Gastronomia Amazônica) deste ano, e trouxe como tema central o “Turismo Gastronômico”.
Em meio às palestras, aulas-show com os chefs de cozinha e demais espaços, a feira, assim como a capital amazonense, esteve aquecida pelas mais de 12 mil pessoas que prestigiaram os dois dias de evento (30/09 e 01/10), no Centro de Convenções Vasco Vasquez, vizinho à Arena da Amazônia.
Para quem compareceu à feira, já de início sentiu o orgulho do povo manauara pela sua cultura visceral. A chef amazonense Maria do Céu Athayde, durante sua aula-show, discursou e reiterou suas oportunidades de ir para outros lugares, mas que nunca conseguiu sair da região.
Além de reivindicar o nome da castanha do Amazonas (castanha-do-pará para alguns, castanha do Brasil para outros), ela fez questão de destacar: “as pessoas de outras regiões não têm o direito de dar o nome para nossos pratos e ingredientes”.
Esta que foi a quinta edição da FIGA serviu para firmar ainda mais o evento como o principal de gastronomia da região norte. Quem confirma o sucesso desta edição da FIGA é a curadora e produtora gastronômica Denise Rohnelt, que frequentou edições anteriores da feira.
“A FIGA deste ano mostrou que está consolidada neste mercado de eventos gastronômicos. Tivemos um fluxo muito grande de pessoas, uma perspectiva positiva, com os chefes conhecendo os nossos ingredientes... muitos negócios sendo realizados na feira, marcas se destacando em conhecimento”, afirma.
Com o tema Turismo Gastronômico neste ano, a FIGA apresenta um mercado para ser aproveitado pelos bares e restaurantes do Brasil, mas principalmente na capital amazonense. “Que daqui para frente, em 2025 (na próxima edição da FIGA), possamos mostrar ainda mais sobre Manaus e a nossa Amazônia”, destaca Denise.
E definitivamente foi o apresentado na FIGA deste ano. Nas aulas shows de cozinha, o público pôde assistir cozinheiros vindos de diversas partes do país e do continente utilizando ingredientes oriundos da região em suas receitas. Os presentes puderam experimentar pratos com vitórias-régias, tartarugas, pirarucu e até mesmo pão de farinha de formiga.
Veja a lista dos chefs que participaram da FIGA deste ano:
• Maria do Céu Athayde (Amazonas)
• Luana Oliveira (Tocantins)
• Jaime Rodriguez (Colômbia)
• Paulo Machado (Mato Grosso do Sul)
• Selma Reis (Amazonas)
• Amanda Vasconcelos (Acre)
• Elisângela Valle e Lídia Medina (Amazonas)
• Daniela Martins (Pará)
• Hiroya Takano (Amazonas)
• Heinz Wuth (Chile)
Para o chef de cozinha do restaurante Banzeiro (que atua com a gastronomia amazônica), Felipe Schaedler, o tamanho que a FIGA tomou principalmente nesta edição é uma oportunidade para trazer cada vez mais a atenção para o Amazonas e seus ingredientes.
Sobre sua apresentação na FIGA, onde preparou ”Pirarucu defumado e Purê de Tucumã”, Felipe diz ter tentado apresentar a versatilidade dos ingredientes. “A minha ideia foi dar um novo olhar sobre o ingrediente, por exemplo, o tucumã, que é um fruto de uma palmeira, e é tão usado no Amazonas, mas usualmente as pessoas comem em um sanduíche”, afirma.
“É importante mostrarmos a diversidade da Amazônia e como estamos construindo uma história rica de repertório. Creio que em 2025, quando a FIGA completa dez anos, vamos consolidar ainda mais essa história que vem sendo escrita por tanta gente boa”, prevê Felipe.
Realmente a FIGA tem ganhado grande importância no cenário de gastronomia do norte do país. Além do grande número de pessoas locais que prestigiaram os dois dias da feira, grandes nomes da gastronomia nacional também tiveram a curiosidade de conhecer e prestigiar o evento.
O chef goiano André Barros, ex-participante do programa Mestres do Sabor, da Rede Globo, foi um dos que estiveram presentes na FIGA 2023 como espectador. “O festival como um todo foi impecável, superou todas as minhas expectativas. Tudo foi muito organizado, com tudo começando no horário pré-definido”, analisa o chef.
“Tivemos muitos aprendizados, os chefs convidados eram excelentes. O networking que fizemos foi muito válido para mim como profissional, não apenas na área dos cozinheiros, mas na feira como um todo. Conhecer os produtos com o DNA da Amazônia foi muito interessante, ainda mais com comidas tão saborosas. Foi uma experiência absurda incrível, espero
poder estar nas próximas edições”, destaca André.
Outros espaços
Além dos destaques já mencionados na FIGA 2023, a feira ofereceu uma variedade de experiências gastronômicas e oportunidades de aprendizado aos visitiantes. Os estandes apresentaram produtos típicos da região norte do Brasil, desde a famosa cachaça de jambu, que segundo os locais deixa a boca dormente, o tradicional refrigerante nortino Tuchaua até
o pastel de tacacá.
O festival também proporcionou uma oportunidade especial para os jovens talentos culinários do Amazonas. Na sala de oficinas dedicada aos mini-chefs, os jovens e promissores cozinheiros puderam mostrar suas habilidades, criando receitas inovadoras com ingredientes regionais.
Além das aulas-show com chefs renomados, a FIGA 2023 contou também com uma área de palestrantes que abordou diversos temas relevantes para a indústria gastronômica. Entre os assuntos discutidos, a candidatura de Manaus à Cidade Criativa da UNESCO foi um destaque, refletindo a busca pelo reconhecimento internacional da riqueza cultural e culinária da região.
A gestão por indicadores-chave de desempenho (KPIs) foi outro tópico fundamental, e enfatizou a importância da eficiência operacional em bares e restaurantes. Também foi abordada a coquetelaria na floresta, e assuntos como a gastronomia sustentável que destacou a necessidade de práticas responsáveis na indústria alimentícia para promover a conservação dos recursos.
Assim, a FIGA 2023 não apenas celebrou a diversidade culinária da Amazônia, mas também serviu como uma plataforma educativa e inspiradora para profissionais, amantes da gastronomia e futuros chefs.
O evento não apenas consolidou sua posição como um dos principais eventos gastronômicos do Brasil, mas também colocou em foco a riqueza de ingredientes da região norte do país.