Pesquisa nacional da Abrasel mostra que um terço dos estabelecimentos ainda trabalha com prejuízo. Alta dos insumos, na percepção dos empresários, ultrapassa inflação oficial
A queda das últimas restrições de funcionamento e a proximidade das festas de fim de ano animam os empresários de bares e restaurantes. Segundo a nova pesquisa nacional da Abrasel, realizada em outubro, 79% dos consultados acreditam que as vendas irão aumentar até o fim de 2021.
No entanto, o céu ainda não é de brigadeiro - longe disso. Quase um terço (32%) dos respondentes segue trabalhando no prejuízo. A maioria destes (60%) ainda não conseguiu reajustar o cardápio para sair do vermelho.
“Nenhum empresário trabalha no prejuízo por opção. Se ainda não aumentamos os preços do cardápio é pelo medo de afastar os clientes neste momento de retomada. Mas 75% dos estabelecimentos dizem que não terão mais como segurar esse repasse se os custos continuarem aumentando”, diz o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci.
A inflação nos principais insumos de bares e restaurantes pressiona ainda mais o setor. O IPCA de alimentos e bebidas nos últimos 12 meses está em 14,6%. Mas a percepção dos empresários, medida pela pesquisa, aponta para um aumento acima deste patamar.
A maioria (55%) afirmou que, em sua opinião, os insumos subiram, somente este ano, mais de 15%. A carne, a energia elétrica e os laticínios são os que mais subiram, na visão dos empresários. Já a cerveja, o aluguel e os hortifrútis tiveram a menor percepção de aumento.
Com a retomada e o fim das restrições, bares e restaurantes precisam recompor seus estoques, já mirando também as festas de fim de ano. No entanto, muitos enfrentam dificuldade na hora da compra.
As razões, no entanto, variam. Enquanto a alta dos preços é o principal motivo de dor de cabeça para quem precisa comprar carne (39% dos consultados dizem estar difícil ou muito difícil fazer o reabastecimento do item), para quem compra cerveja, a grande dor de cabeça é a falta ou escassez do produto no mercado (dos 25% que apontaram problemas para comprar cerveja, 36% dizem que a escassez é a principal causa).
“Além da inflação, continuamos preocupados com o alto nível de endividamento das empresas. A alta da Selic trouxe problemas para quem pegou empréstimo na crise, principalmente os que aderiram ao Pronampe em 2020. Quem pegou o crédito a 3,25% de juros ao ano agora está pagando 9%, por causa da indexação à Selic. É preciso resolver a situação, ou muitos irão quebrar”, explica Solmucci. A pesquisa apontou que 77% dos empresários fizeram empréstimos durante a crise. E uma em cada cinco empresas (21%) está com dívidas bancárias em atraso.