Paulo Solmucci, Laurent Suaudeau e o integrante do Conselho de Administração Nacional da Abrasel, Célio Salles, apontaram os impactos sociais, econômicos e urbanísticos dos bares e restaurantes.
Por Valério Fabris
O ambiente receptivo e democrático ao primeiro emprego
As portas mais abertas ao primeiro emprego são as dos bares e restaurantes. Adolescentes vindos das periferias ou do interior, mesmo com reduzida escolaridade, têm nos bares, cafés, bistrôs, restaurantes e em todo setor da alimentação fora do lar o primeiro degrau de sua ascensão econômica e social. O setor é o mais aberto ao emprego de pessoas de quaisquer raças, níveis de escolaridade, gêneros, crenças e classes socioeconômicas.
Qualificação profissional e social eleva a autoestima dos jovens
Nos bares e restaurantes os jovens absorvem amplo leque de conhecimentos e atitudes, desde a boa apresentação, a cortesia, o trabalho em equipe, o sen- so de hierarquia, o crescente uso dos meios eletrônicos digitais, e noções básicas de gerenciamento de cada etapa do negócio. Grandes, médios ou pequenos, os estabelecimentos da alimentação fora do lar são ambientes de formação profissional e de introdução dos funcionários aos mais variados círculos sociais.
De repente, o garçom abre seu próprio estabelecimento
O setor da alimentação fora do lar é um viveiro de empreendedores. Frequentemente, sabe-se de funcionários do atendimento no salão que resolveram montar seu próprio negócio. A maioria das demais atividades comerciais e industriais não tem esse atributo. Um pedreiro, por exemplo, jamais consegue largar o emprego para abrir sua própria construtora.
Na era da crescente longevidade, complemento de renda a aposentados
O setor é também a primeira alternativa ocupacional para o complemento de renda de homens e mulheres aposentados. É comum em todo o mundo e sobretudo nos países em que o setor da alimentação fora do lar mais se desenvolveu os jovens conciliarem o estudo com trabalhos temporários em um quiosque, bar ou restaurante. A legalização do contrato de trabalho intermitente estendeu aos jovens brasileiros a possibilidade de conciliar o emprego com o estudo.
Melhor o vai-e-vem do que rua vazia: segurança é o olhar dos passantes
O principal fator de segurança pública são as lojas de portas abertas às calçadas. Quando o comércio encerra o expediente, no início da noite, os bares, lanchonetes, cafés, bistrôs e restaurantes permanecem abertos. A principal vigilância das ruas e vizinhanças é o olhar dos passantes. Os gestores das cidades globais mais admiradas e atrativas de vida estimulam os negócios de bares e restaurantes como ativadores de vitalidade e segurança urbana.
O mundo real de diferentes fisionomias e pontos de vista
Os bares e restaurantes propiciam as interações cara a cara (‘face to face’) entre pessoas de diferentes profissões, origens socioeconômicas, preferências políticas ou partidárias. Os encontros espontâneos funcionam como contrapeso ao ensimesmamento dos grupos formados nas redes sociais. Nestes, criam-se enclaves homogêneos de pessoas com as mesmas opiniões. Os ambientes abertos dos bares e restaurantes comportam novas caras e visões diferentes, alargando os relacionamentos e a arte cívica da conversa.
Balcões, mesas e cadeiras fazem as sinapses dos neurônios sociais
O setor da alimentação fora do lar tece as conexões urbanas interpessoais nos bares de portas abertas para as calçadas, nas lanchonetes das escolas, hospitais, museus, repartições públicas. Até mesmo no Congresso Nacional, entre uma sessão e outra, os parlamentares conversam com jornalistas e visitantes no ‘Cafezinho do Plenário’, situado proximo à entrada do grande plenário da Câmara dos Deputados. É nesse espaço que acabam vazando para a imprensa as informações de bastidores.
O charme das cidades com toldos sobre as calçadas
As cidades turisticamente mais visitadas no mundo são aquelas que seus planos diretores riscaram do mapa urbano os bairros exclusivamente residenciais, aproximando as moradias ao trabalho, às escolas e praças, aos hospitais e locais de lazer. Quanto mais os planos diretores são orientados para o conceito da mescla urbana, mais florescem as ruas vivas, com moradia, locais de trabalho, escola, parques e o comércio lojista, em um cenário pontilhado de bares e restaurantes.
Calçadas, ciclovias, transportes públicos: a cidade baixo carbono
As cidades mescladas, em que as moradias estão próximas dos locais de trabalho, estudo, lazer e de compras, são saudáveis (porque possibilitam caminhadas diárias), seguras (porque o vai-e-vem das pessoas cria a vigilância natural do olhar dos passantes) e sustentáveis (porque reduz a necessidade do transporte individual motorizado). Estas cidades têm o jeito Abrasel de ser.