No quarto texto sobre os biomas brasileiros e sua gastronomia, vamos explorar o Caatinga, um ambiente imprevisível que, apesar de suas adversidades, conta com ingredientes inusitados e bem explorados nas cozinhas
Por Carolina Cerqueira
A 18ª edição do Festival Brasil Sabor, que começa neste mês de maio, dia 16, é uma jornada gastronômica que celebra as raízes brasileiras de cada região, apresentando pratos que exaltam ingredientes e técnicas de preparo autênticas do nosso país.
Para conhecer melhor nossa culinária, iniciamos uma série de reportagens que exploram as técnicas, ingredientes e a preparação de chefs para o festival por meio dos biomas. No terceiro texto, exploramos o Cerrado, repleto de técnicas que ajudam na diversidade e riqueza do bioma.
Agora no quarto texto da série, exploraremos a Caatinga, bioma rico em biodiversidade, e mesmo com suas dificuldades, surpreende na gastronomia, como o uso de técnicas e ingredientes populares da região.
A gastronomia do semiárido da caatinga
A Caatinga, o bioma semiárido que ocupa grande parte do Nordeste brasileiro, guarda entre suas paisagens áridas um rico universo gastronômico. Cheia de variedade de ingredientes nativos, frutos da adaptação milenar do povo nordestino à escassez de água, oferece pratos cheios de texturas e sabores que por muitas vezes não são explorados e conhecidos no restante do país.
A carne de sol com pirão de queijo, o baião de dois, a moqueca de peixe com leite de coco e azeite de dendê, o cuscuz com leite e carne seca, a cocada, o quindim e a cachaça artesanal são apenas alguns exemplos da riqueza gastronômica da Caatinga. Cada ingrediente, cada prato, conta uma história, revela a sabedoria popular e conecta o público à cultura local.
A culinária da Caatinga vai além da sobrevivência. É a expressão cultural de um povo que encontrou na aridez a inspiração para criar pratos saborosos e nutritivos. Raízes, tubérculos, frutos, carnes e cactos exóticos que são explorados pelas cozinhas locais.
O bioma da Caatinga apresenta desafios logísticos e de sazonalidade que exigem planejamento e criatividade dos empreendedores. Investir em parcerias com produtores locais, em técnicas de conservação adequadas e na diversificação do cardápio são estratégias essenciais para o sucesso do negócio.
Sobre esses desafios, a chef Amanda Navarro, instrutora do Senac no Rio Grande do Norte, acredita que; “a escassez sazonal ou irregularidade na oferta de ingredientes pode representar um desafio para os cozinheiros que desejam utilizar esses elementos típicos em seus pratos, incentivando a busca por alternativas ou o desenvolvimento de técnicas de conservação e manejo sustentável para garantir sua disponibilidade ao longo do ano.”
Sobre como ela explora e usa da melhor forma os ingredientes típicos do cerrado e o modo que realiza a implementação em seus pratos, a chef conta que ela faz isso através da incorporação da cultura e história do bioma em seus pratos;
“Incorporar a história e cultura da caatinga em meus pratos é essencial para manter viva a rica herança gastronômica dessa região. Utilizo ingredientes nativos, técnicas tradicionais e narrativas culinárias que remetem às tradições ancestrais do povo nordestino, preservando e celebrando nossa identidade cultural. Ao fazer isso, contribuo para que a história da caatinga seja contada através dos sabores, promovendo sua valorização e reconhecimento dentro e fora da cozinha.”
Leila Carreiro, do restaurante Dona Mariquita na Bahia tenta promover a memória também através de seus pratos; “Eu incorporo a história e a cultura da região em meus pratos, contando as histórias, falando da importância daquele ingrediente para a população, falando um pouco dos produtores, falando da cultura dessa região, porque as comidas tem uma história, elas já estão aí, mas precisamos contá-las para não serem esquecidas.”
E ainda completa falando sobre a importância do uso de ingredientes mais variados dentro da cozinha regional : “Eu acho que a melhor forma de despertar o interesse pela culinária da Caatinga é servindo pratos de qualidade, né, produtos de qualidade, com uma boa apresentação, é saber trabalhar, né, com esses ingredientes. Todo mundo acha que Salvador só é muqueca e acarajé, né. Eu acho que faltam restaurantes que trabalham e busquem contar essas histórias, em fazer uma coisa mais primorosa, um trabalho de resgate mesmo dos ingredientes locais, eu acho que precisa.”
Apesar desses obstáculos, a riqueza gastronômica da Caatinga oferece oportunidades únicas para os empreendedores. Ao explorar os ingredientes e pratos tradicionais deste bioma, é possível não apenas oferecer experiências gastronômicas autênticas aos clientes, mas também valorizar e preservar a rica herança cultural e ambiental da região. Assim, cada prato servido torna-se não apenas uma refeição, mas também uma história contada através dos sabores da Caatinga.
Brasil Sabor
A 18ª edição do festival Brasil Sabor, com o tema "Pra toda gente e pra todo gosto", acontece de 16 de maio a 2 de junho de 2024. Organizado pela Abrasel, o evento incentiva restaurantes em todo o país a criarem pratos especiais que celebram a diversidade da gastronomia brasileira.