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Especialistas afirmam que crescimento tecnológico deve ser encarado como meio para atingir objetivo de aproximação com consumidor, não como fim



Por Danilo Viegas

Não tem para onde fugir. A tecnologia cada vez mais influencia diretamente a vida de todos. Nas empresas, essa evolução começa a se mostrar uma realidade e deve se intensificar nos próximos anos. Tudo isso graças à transformação digital, processo que pode ser traduzido como o uso da tecnologia com o intuito de melhorar o desempenho das relações de trabalho e garantindo melhores resultados.

Isso passa por uma mudança de mentalidade – não só de uso de novas tecnologias, que podem e devem auxiliar as companhias a responderem aos anseios de seus clientes com agilidade. Mas o significado do termo ‘digital’ é mais amplo e profundo. Uma empresa deste molde é dinâmica e flexível e, por isso, tem a capacidade de acompanhar as mudanças da sociedade.

Mais do que uma salada de termos complexos, como ‘big data’, ‘internet das coisas’ ou ‘inteligência artificial’, a transformação digital pede a reestruturação dos processos das empresas e a criação de uma nova cultura, agora digital, ou seja: voltada para dar um dinamismo maior ao trabalho. Entre as preocupações estão melhorar a experiência do cliente; criar novos produtos e novas formas de comercializá-los; deixar a operação do negócio mais afinada possível; e ajudar a traçar estratégias e projetos. É o que dizem os especialistas.
“Acredito que a transformação digital é meio, e não fim. Ela vem para trazer algo que perdemos com o tempo; relacionamento. É uma ferramenta que aproxima a empresa dos consumidores, fornecedores, enfim, de todos os agentes da cadeia”, diz Alberto Weisser, vice-presidente global para estabelecimentos da Sodexo.

O executivo diz que as pessoas tendem a associar a transformação digital a uma substituição de humanos por robôs, o que não é verdade. Ela utiliza a tecnologia como base, porém nasce nas áreas de negócio, de suporte, identificando a necessidade de automação e utilizando da tecnologia para suprir essas necessidades. “Pense, por exemplo, em um restaurante que realiza as reservas de seus clientes por meio de um aplicativo, e com base no banco de dados com os consumidores, consegue agregar valor aos clientes, pela comodidade. É uma ferramenta simples, mas que de fato faz toda a diferença”.

De acordo com Weisser, essa transformação digital envolve ações coordenadas dentro da empresa, fazendo com que todo o processo ocorra por meio ou influenciado pelo ambiente digital. “A transformação digital acontece quando toda a cadeia de valor da organização incorpora a tecnologia para efetuar as coisas de modo mais rápido e de maneira mais assertiva, com o menor custo”, explica. Na sua opinião, bares e restaurantes devem estar conectados cada vez mais com a indústria tecnológica, que por sua vez pode influenciar o menu baseado na experiência do cliente. “O digital é o facilitador do ecossistema da empresa”, resume.

Integração é palavra-chave

Em sua palestra no 30º Congresso Nacional Abrasel, realizado em agosto, em Brasília, Flavio Camelier, vice-presidente de digital transformation da Coca-Cola Brasil, defendeu que a transformação digital não é apenas fazer marketing no mundo online, mas integrar-se completamente à atualidade.

É neste sentido que a empresa está atenta às mudanças do mercado de tecnologia. De olho no futuro, a Coca-Cola iniciou o que batizou de jornada de transformação digital, pautada, especialmente, pela mudança no hábito de consumo de seus clientes. Nesse cenário, reinventar os negócios para levar adiante a estratégia da organização é fator determinante de sucesso dos negócios.

Essa transformação tem como base três pilares. O primeiro está focado em maximizar o volume de vendas e margens; o segundo em responder rapidamente e com agilidade a adoção de tecnologias disruptivas para reagir às pressões do mercado e de novos mercados e, o terceiro engloba a ideia de mudar a forma de fazer as coisas, fazendo da tecnologia um facilitador de negócios.

“Na verdade, a transformação digital só existe porque a gente quer atender melhor o consumidor. Ele é o centro dessa intenção, dessa nova agenda. Queremos nos preparar como organização para atender cada vez melhor”, explicou Camelier.

10% tecnologia, 90% cultura

Para Demetrio Teodorov, futurista e superintendente de inovação na Alelo, essa transformação é 10% tecnológica e 90% cultural. “Não é só criar um blog corporativo e uma fanpage ou utilizar um aplicativo. É muito mais do que isso”, diz. A transformação exige mudanças mais profundas na estrutura das organizações, uma vez que a tecnologia passa a desempenhar um papel estratégico central ao invés de ser apenas uma presença superficial dentro das empresas.

“Quando internamente se muda o posicionamento do colaborador, sua forma de pensar, acontece a inovação e o aumento de performance, que lá na frente faz a toda a diferença para a empresa”. E é até por isso que máquinas não irão dominar a operação interna. “O homem continua sendo necessário porque um robô não consegue substituir o ser humano em criatividade e em cenários em que as experiências são necessárias. É preciso não brigar com essa tendência e, ao contrário, identificar de que forma podemos nos encaixar nessa mudança”, argumenta Teodorov. Dos pequenos aos grandes empresários, todos têm que passar por essa curva exponencial. “Se não atualizar, vai morrer. Todo empresário deve ter esse pensamento”, disse também no Congresso Abrasel.

Essa mudança, porém, leva tempo para acontecer, principalmente porque vai mexer com toda a estrutura das relações e do funcionamento de uma empresa. Com a transformação digital, surge uma necessidade das organizações se comportarem de maneira mais flexível e a responderem com mais agilidade. Há também uma necessidade de estarem abertas aos inputs dos seus clientes assim como dos concorrentes.

“Hoje, nas empresas, os líderes têm a cultura de controle sobre todas as coisas, decisões e equipes. Mas quando surge a necessidade de trazer o cliente e o concorrente para dentro da empresa, você não consegue responder rapidamente a isso tendo essa centralização de decisão”, avalia o futurista. É dessa necessidade de responder mais rápido ao mercado e aos clientes que surge uma das mudanças mais bruscas que a transformação digital incute: a descentralização na tomada de decisões. “É necessário mais autonomia para a equipe responder essas demandas, claro que com um alinhamento com as estratégias executivas da empresa”, afirma.

Os líderes, então, passam a ter a função de definir as estratégias e objetivos da empresa e a responsabilidade de disseminar essas estratégias para toda a organização. Vai ser com base nesse alinhamento que as equipes vão tomar as decisões, sempre de acordo com os impulsos do mercado e do cliente. Ou seja, os líderes passam a ter a função de direcionar as equipes, deixando para elas a responsabilidade e autonomia de decisão nas execuções do dia a dia.

*Reportagem originalmente publicada na edição 123 da revista Bares & Restaurantes

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