Reconhecida como a capital da cevada e do malte, a cidade de Guarapuava se destaca e cada vez mais como um importante polo cervejeiro
Por Danilo Viegas
No coração do Paraná, a cidade de Guarapuava ostenta um título que vai além de sua rica história e belezas naturais: a capital da cevada e do malte. Mais que um apelido, essa denominação se traduz em números expressivos: a região é responsável por 70% da produção de cevada do estado e 20% da produção nacional, segundo números da cooperativa agroindustrial Agrária.
Essa vocação para a produção de insumos de qualidade se reflete diretamente na pujança do setor cervejeiro local, que vem se consolidando como um polo cervejeiro premiado, atraindo olhares e paladares de todo o país e até mesmo do exterior.
A regional da Abrasel no Centro Sul do Paraná vem apoiando a simplificação do empreender e representando o setor para que o empreender nesse segmento seja cada vez mais produtivo.
O prefeito de Guarapuava, Celso Góes, parceiro da Abrasel na região, sublinha que é motivo de orgulho e motivação ver o município se destacando nas diversas frentes, como economia, turismo, ecologia, tecnologia, dentre outras atividades.
“Saber que nossas cervejarias artesanais foram premiadas em um festival que reúne fabricantes de todo o Brasil é muito gratificante. Na verdade, eu digo que é motivo de muito orgulho. Nossa cidade é a capital da cevada e do malte e este reconhecimento serve de incentivo para que mais pessoas empreendam, gerem empregos e façam com que a economia se desenvolva”, ressalta.
Reconhecimento da qualidade e do sabor
Nos últimos anos, as cervejarias de Guarapuava têm se destacado em concursos nacionais e internacionais, conquistando medalhas e prêmios que comprovam a excelência e a criatividade das produções locais.
Em 2023, a Água do Monge Cervejaria conquistou o título de melhor cerveja da América Latina com a sua Saison Pitaya no Concurso Cervezas de América. Já a Cervejaria Hank coleciona premiações em diversos concursos, como o Brasil Beer Cup e o Concurso Brasileiro de Cerveja.
Em 2024, por exemplo, no Concurso Brasileiro de Cervejas, cinco cervejarias guarapuavanas se destacaram, conquistando um total de 10 medalhas. Mas a lista de premiações não para por aí. No Concurso Brasil Beer Cup, as cervejarias locais conquistaram 14 medalhas, com destaque para a Água do Monge, que levou para casa seis delas.
Um dos destaques na cidade é a Cervejaria Irmandade, tocada pelos irmãos Heloise e Ricardo de Almeida Lima. O estabelecimento produz cerca de 6 mil litros de cerveja por mês e foi eleito o 3º melhor Brewpub (quando fábrica e bar funcionam no mesmo local) do Brasil no Concurso Brasileiro de Cervejas em 2020 e possui 14 medalhas em nove cervejas diferentes.
Para Ricardo, a cidade sempre teve destaque na cena por conta da proximidade geográfica com a Agrária, mas que isso não influencia na qualidade da matéria prima “recebemos aqui com a mesma qualidade de uma cervejaria do Nordeste, por exemplo”.
“Estamos mostrando que o nosso potencial não é apenas na produção de matéria prima, mas sim de produto acabado. Conseguimos criar um círculo onde há uma cultura cervejaria pelos bares, fábricas e consumidores. Daí cria-se essa sinergia”, completa.
Ganhar prêmio é bom, mas ganhar mercado é mais gostoso
Para Renato Mocellin, diretor da Cervejaria Jordana, que produz cerca de 40 mil litros de cerveja por mês, o foco não é ser uma cervejaria premiada, mas sim expandir a marca para outros mercados.
"A gente aqui não corre atrás de prêmio. Não é o foco da nossa cerveja. A gente quer tentar ganhar mercado. A gente manda para um concurso só, o Concurso Brasileiro de Cervejas."
Ele explicou que a produção em larga escala exige assertividade, o que limita a quantidade de testes com novas receitas. “Na nossa planta eu não tenho como ficar fazendo muito teste. Não tenho como ficar testando sabores de frutas fazendo mil litros que pode dar errado. Preciso fazer produto assertivo para ir para o mercado."
A marca também busca expandir sua atuação para outros estados, aproveitando o interesse crescente em suas cervejas. "A gente já está querendo preparar a marca para expandir ela até mesmo se puder em nível nacional. A gente já está rompendo algumas barreiras de estado aí. Já estamos despertando interesse em outros locais."
Na Cervejaria Hank a estratégia é diferente. Segundo o mestre cervejeiro Thomas Felipe, sócio proprietário do estabelecimento, por produzir ‘poucos litros por mês (cerca de 14 mil), é possível traças estratégias diferentes. “Conseguimos colocar alguns ingredientes diferentes, maturar essas cervejas em barril, fazer uma fermentação diferenciada com levedura selvagem, que dá acidez, botar frutas, esse tipo de coisa”, diz.
Isso só é possível porque a cervejaria trabalha com volumes menores. “Eu não vou fazer 2 mil litros de uma Imperial Stout com 14 % de álcool, entende? Então, eu faço 200 litros, 300 litros e testo. Meus tanques são menores, então há essa flexibilidade.
A estratégia é válida porque a criatividade traz medalhas em premiações, o que chancela a excelência da casa e ajuda na divulgação por meio de marketing. “É preciso ter um estilo que te banca, como geralmente é nossa Pilsen, que é responsável por 60% das nossas vendas ou IPA, e daí abre-se brecha para um outro estilo que você também consiga afluir ali a sua criatividade”, completa.