Por Guilherme Paixão
Encerrado o monopólio de transmissões esportivas por parte da Globo, cada vez mais existe uma diversidade de plataformas onde assistir os jogos de futebol
Na última semana, a BBC News Brasil fez uma matéria em que abordava a dificuldade de idosos para conseguirem se adequar ao novo contexto de transmissão dos jogos de futebol no Brasil. Ali, foi contada a história de um são paulino de 87 anos, que precisava da ajuda dos netos para conseguir assistir às partidas de seu clube de coração.
Álvaro Pereira, um comerciante aposentado, explicava sua incapacidade de conseguir encontrar jogos que não fossem transmitidos nos canais tradicionais de televisão. Mas o que causou esta situação?
Em meados de 2021, a guerra dos clubes contra o monopólio da Globo já apresentava sinais claros de ruptura. Sentindo-se injustiçados em razão dos valores recebidos, os clubes que não possuem a popularidade de Corinthians e Flamengo, pressionaram e conseguiram a validação da Lei do Mandante. Com isso, cada clube pôde começar a negociar seus jogos que possuíam mando de campo da forma que preferissem nos torneios nacionais.
Assim, alguns clubes se mantiveram vendendo seus jogos como mandante para a emissora carioca, outras negociaram com a TNT Sports. O caso mais inovador foi do Athlético Paranaense que criou um streaming próprio para transmitir seus jogos em Curitiba.
Se antes o consumidor de futebol precisava apenas ligar nos canais Globo para assistir seu time de coração, hoje a situação é bem diferente. A série C do Campeonato Brasileiro, que hoje conta com clubes de grandes torcidas locais, é exclusividade da DAZN, plataforma que mostra o campeonato pela segunda edição consecutiva.
Além do Campeonato Brasileiro, os grandes clubes também se envolvem em torneios internacionais como a Copa Libertadores, Sul-americana e até mesmo o Mundial de Clubes. Antes transmitidos pela emissora carioca, hoje existe uma variedade muito maior.
A Libertadores atualmente transmitida pelo SBT, em 2023 volta a ser transmitida pela Globo. Além disso, diversos jogos passam apenas na Conmebol TV (streaming criado pela Confederação Sul-americana de Futebol). O último Mundial de Clubes, torneio que a Globo transmitiu as últimas conquistas brasileiras, passou na tela da Band.
Em caráter internacional, os torneios europeus também têm se dividido cada vez mais. As ligas principais (Espanha, Inglaterra, França, Alemanha e Itália) se dividem entre canais abertos e fechados, e até mesmo em aplicativos como o One Football. Já a Liga dos Campeões da Europa, maior torneio de clubes do planeta, foi repartida entre os canais SBT (TV aberta), TNT Sports e SPACE (TV fechada), além da HBO Max (streaming / pay-per-view).
Mas o que significa isso para o dono de um bar esportivo? Existe um claro encarecimento do produto futebol para o dono de bar. Se antes ele precisava ter a Globo, Sportv e Premiere, hoje existem diversos streamings para o dono do local se preocupar. Cada vez mais existe uma dificuldade para encontrar diversas partidas. Como lidar com um público de torcedores ansiosos pela transmissão dos jogos?
Em Curitiba, cidade que tem dois clubes considerados grandes, a situação necessita de ainda mais cuidados. Por ter uma grande quantidade de torcedores de times do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, a importância de se inteirar das transmissões de cada clube é ainda mais vital. É nesse contexto que surge o Cartolas Sports Bar, local que tem dois telões e 7 televisões, podendo assim transmitir até 9 partidas.
Segundo Dominik Machado, funcionária responsável pela administração do bar, o contexto atual de transmissões encareceu em cerca de 100 reais mensais. “Além do Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil está sendo transmitida no Amazon Prime Video. O Athlético Paranaense, que tem maior torcida na cidade, exige uma pesquisa durante a semana do jogo para não sermos surpreendidos”, ressalta ela.
De acordo com Dominik, a situação causa confusão até mesmo com os clientes.
Diferentemente de Curitiba, em Porto Alegre, o cenário de clubes e torcidas é totalmente oposto. A expressão “grenalização” surgiu em razão da completa polarização do que para muitos é a maior rivalidade do futebol brasileiro.
Grêmio e Internacional são dois clubes gigantes que disputam o clássico e vivem a rivalidade por vezes até acima da racionalidade. O clima das torcidas muitas vezes é levado para campo, resultando normalmente em um clássico temperado por confusões e expulsões.
É neste cenário que o Sr. Espetto vive a realidade de suas transmissões. Essa polarização resulta inclusive em um movimento menor atualmente, em razão do mau momento dos clubes de Porto Alegre, revela Michel Lopes, proprietário do bar. Segundo ele, “a única vantagem é que com o rebaixamento do Grêmio para a Série B, não existe mais conflito de datas entre as partidas”.
Em relação as assinaturas de pacotes, ele diz não ter conseguido transmitir as últimas partidas dos gaúchos contra o Athlético Paranaense, pois teria que assinar o streaming para apenas um jogo, o que seria inviável.
“Já tive alguns problemas com as transmissões. No último ano, o Grêmio jogou pela Libertadores e foi transmitido via Facebook. Eu já havia feito a arte de divulgação, mas não consegui passar o jogo para o público”, relembra Michel Lopes.
Anos atrás, não era necessário ter este tipo de preocupação com as transmissões. Além disso, havia uma segurança no futuro das mesmas. Hoje, o panorama é muito mais incerto com os clubes buscando negociações individuais para seus direitos de transmissão. Resultado disso, os donos de bares e restaurantes se veem em um contexto mais caro e menos claro, porém em tentativas de se adaptar à realidade atual.
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